História de Amélia Rodrigues
História de Coração de Maria

História e Curiosidades da cidade de Conceição do Jacuípe

Índice

Introdução
Conceição do Jacuípe Características
O Nome da cidade e outras questões
Limites da cidade e dados especificos
Fábricas em Conceição do Jacuípe
Primeiro Prefeito de Conceição do Jacuípe
Sérgio Cardozo (1858-1933): Um Conjacuipense Acadêmico de medicina, Abolicionista e Republicano
Filme Tieta do Agreste, rodado no Picado de Conceição do Jacuípe.
Esporte em Berimbau

Intrudução

Em 1961, desmembrado de Santo Amaro, foi criado esse município. O povoamento de seu território teve início no século XVII, por portugueses que ali se estabeleceram, instalando engenhos e desenvolvendo a cultura da cana-de-açúcar. Em 1898, com a instalação de uma casa comercial, formou-se o arraial de Baixa do Jacuípe, alternado-se o nome para Feira do berimbau, por ocasião do início da feira livre, em 1914.

Fonte Municipal.
Nascente do Rio Jacuípe.

As primeiras referências históricas ao município de Conceição do Jacuípe datam de 1889, quando ali chegou o Sr. Tucides de Moraes que edificou a primeira casa no lugarejo, pertencente a Santo Amaro. Seu nome inicial foi Baixa do Jacuípe, tendo em vista o atual município localizar-se numa baixada onde nasce o Rio Jacuípe, destacando-se como um dos principais rios da região norte do Recôncavo, na cabeceira do rio, a vazão é de 4,32 metros cúbicos e no médio curso, de 7,40 metros cúbicos.
Em 1914, surgiu uma feirinha que servia para a comercialização de pequenos produtos, sendo visitada por violeiros, pandeiristas, tocadores de berimbau, surgindo entre eles um que fez trova cujo final falava na Feira de Berimbau. Seria aí o segundo nome do local Feira de Berimbau.

Em 1943, o então prefeito de Santo Amaro, teve que ir ao Rio de Janeiro tratar de assuntos de interesse do Município, oportunidade em que assumiu a chefia do Executivo, interinamente, o Secretário Elísio Barreto, residente no Povoado de Berimbau, que aproveitando da ausência, ampliou e reformou o mercadinho.

Em 1945, o Coletor Federal, entusiamando-se com o efeito do Secretário, organizou uma feira com o pessoal do povoado, dando como prêmio a soma de cem mil réis a cada feirante que participasse das 52 feiras realizadas durante o ano. Vários deles conseguiram o intento, destacando-se entre eles, Eliodoro Marques e Orlando Azevedo.

Em 9 de fevereiro de 1949, foi inaugurada a rede de energia hidrelétrica do povoado. Foi aquela festa. No mesmo ano, instalou-se o Sub-Distrito Policial, da Lapa.

Em 30 de dezembro de 1953, foi assinada a Lei nº 628, que transformou o povoado de Berimbau em Conceição do Jacuípe.
Em 20 de outubro de 1961, o então Governador Juracy Montenegro Magalhães assinou a Lei nº 1531 que criou o município de Conceição do Jacuípe. O topônimo originou-se da adoção da santa padroeira, Nossa Senhora da Conceição e do nome do rio Jacuípe.


Vista aérea da cidade

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Conceição do Jacuípe Características

O município antes fazia parte de Santo Amaro da purificação, por este motivo muitos atribuem a cidade como fazendo parte do Recôncavo baiano, porém logo após o desmembramento Conceição do Jacuípe passo a fazer parte do Território de Identidade chamado Portal do Sertão e não do Recôncavo. A cidade saiu do recôncavo por não se enquadrar nas características deste território, entenda melhor

O que é o recôncavo?

O Recôncavo Baiano tem uma presença marcante de uma paisagem composta por brisas e ventos oceânicos, com o balanço frequente das ondas do mar, clima tropical subúmido, rodeado por dunas, restingas e manguezais, constitui um dos principais atrativos para a formação da diversidade natural e cultural encontrada nessa região.
A denominação de Recôncavo é vista a partir de uma região côncava situada ao fundo da Baía de Todos os Santos.

O que é o reconcavo baiano

Desta forma após a saída de Conceição do Jacuípe de Santo Amaro as questões identifatórias ficaram mais nítidas, Conceição do Jacuípe não possui manguezais, nem ventos oceânicos, também o clima vai do úmido, passando pelo subúmido e chegando ao seco, caracterizando assim uma transição de clima nítida, coisa que é característica desta região identificatória denominada PORTAL DO SERTÃO.
Portal do Sertão é a porta de entrada para o Sertão Baiano

Municípios do Território Portal do Sertão

Água Fria, Amélia Rodrigues, Anguera, Antonio Cardoso, Conceição de Feira, Conceição do Jacuípe, Coração de Maria, Feira de Santana, Ipecaetá, Irará,Santa Bárbara, Santanópolis, Santo Estevão, São Gonçalo dos Campos, Tanquinho, Teodoro Sampaio, Terra Nova.

mapa do portal do sertão


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O Nome da cidade e outras questões

Juracy Montenegro Magalhães 24º Governador da bahia

Em setembro de 1931 foi nomeado por Getúlio Vargas como interventor federal na Bahia, Juracy Magalhães. Já em 1932 reprimiu manifestações de solidariedade aos constitucionalistas de São Paulo, então em confronto armado com o governo federal, promovidas por estudantes em Salvador. Para vencer as forças políticas que exigiam um interventor baiano e civil, contrariamente a ele que era cearense e militar, passou habilmente, a desenvolver contatos junto a coronéis do interior, o que lhe possibilitou consolidar sua liderança à frente da política estadual. Notadamente é atribuída a essa estratégia a perca de território da cidade de Santo Amaro, que era uma das maiores forças políticas da Bahia nesse período, assim o desmembramento de Amélia Rodrigues, Conceição do Jacuípe e demais cidade foi para quebrar a força política de Santo Amaro, percebemos que esse fato também ocorreu com Mata de São João, oura importante cidade da Bahia que perdeu força depois de perder território.

A questão do nome da cidade.

Ela já tinha o topônimo de Berimbau, inclusive este nome meio século depois da emancipação continua muito forte, pessoas conhecem mais a cidade pelo nome de Berimbau do que Conceição do Jacuípe, principalmente em áreas mais distantes.
Mas a questão da mudança de nome é incerta, pois o nome identifica uma localidade, e têm tem tudo a ver com a história e o desenvolvimento de um povo, mas também denota submissão quando a mudança de nome é imposta, e aparentemente foi isso que aconteceu com diversas cidades da Bahia, as escolhas dos nomes foram feita a esmo, sem consulta prévia a população, percebemos que algumas cidades receberam o nome de santos católicos, nosso caso Conceição, já outras de personalidades como Amélia, Teodoro Sampaio e etc. O fato é que já houve tentativa de restabelecer o nome original para Berimbau, porém a ideia não teve guarida com os deputados baiano e o nome Conceição do Jacuípe permace.

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Limites da cidade :

Os Municípios limítrofes são:
- Feira de Santana,
- Santo Amaro,
- Amélia Rodrigues,
- Terra Nova,
- Teodoro Sampaio
- Coração de Maria.
Conceição do Jacuípe fica a 94 KM de Salvador e 25 KM de Feira de Santana

- Área Total: 117,53 km²
- População em 2010:
30.123 hab
- Altitude: 219 m
- Clima: Úmido, Subúmido e Seco (Fonte: SEI)
- Bioma: Caatinga e Mata Atlântica (Fonte IBGE)
- Vegetação: Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Densa (Fonte: SEI)

- Temperatura média anual (ºC): 24
- Período chuvoso: março a agosto
- Pluviosidade anual (mm): 848,1
- Solo Alissolos, Neossolos, Latossolos, Luvissolos e Vertissolos
- Geomorfologia: Pediplano Sertanejo, Tabuleiro do Recôncavo e Tabuleiros Interioranos
- Geologia: Arcóseos, Arenitos, Conglomerados/Brechas, Diatexitos, Folhelhos e Siltitos
- Ocorrências minerais: Argila

Hidrografia

Bacia hidrográfica: Bacias do Recôncavo Norte
Rio(s) principal(is): Rio Jacuípe, Rio Pojuca e Riacho dos Cágados

Regionalização
- Mesorregião Geográfica: Centro Norte Baiano
- Microrregião Geográfica: 12. Feira de Santana
- Região Econômica: 07. Paraguaçu
- Região Administrativa: 02. Feira de Santana
- Eixo de Desenvolvimento: Grande Recôncavo
- Território de Identidade: 19. Portal do Sertão

Legislação Político/Administrativa
- Lei de Criação: n°1.531 de 20/10/1961. Publicada no DOE de 22 e 23/10/1961
- Lei Vigente: nº 1.531 de 20/10/1961. Publicada no DOE de 22 e 23/10/1961
Outras Leis de Referência: -
- Município de Origem: Santo Amaro
- Distritos: Conceição do Jacuípe (sede)

DDD: 75
Telefone da prefeitura:(75) 3243-1192
CEP: 44245-000

Fábricas:

Hortifruti e Berimbau orgânicos: O Agronegócio em Berimbau Click
 


Curiosidades:

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Primeiro Prefeito de Conceição do Jacuípe

Nasc. 09/08/1923
Falecimento - 02/09/2010

O Sr. Emanoel Madureira Couto, foi o primeiro prefeito do município de Conceição do Jacuipe. Filho de Cairu, Manoel Coletor, como era conhecido na cidade elegeu-se na ocasião contra todas as oligarquias (famílias Azevedo Morais e Ribeiro Costa) local.

Foi no seu mandato que Conceição do Jacuipe começou o seu crescimento em relação às cidades circunvizinhas. Como a implantação do Cemec, o atual Colégio Estadual, as famílias começaram a migrarem para a cidade. O ex-prefeito era viúvo de Dona Dionita da Silva Couto com teve os filhos, Maize(professora), Jose Carlos (médico), Emanuel Filho (economista e empresário), João Carlos (advogado), Jorge Couto (auditor fiscal), Lindiomar Madalena e Bárbara Maria.

Ele faleceu no dia 03/09/10, em Salvador e o seu sepultamento foi feito em Amélia Rodrigues, onde o mesmo passou a residir logo que saiu de conceição do Jacuipe.

 

Poetas de Conceição do Jacuípe


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Sérgio Cardozo (1858-1933): Um Conjacuipense Acadêmico de medicina, Abolicionista e Republicano

Este artigo tem como objetivo específico preservar a memória de Sérgio Cardozo, um destacado abolicionista e republicano convicto. Ele foi também jornalista, escritor, juiz, farmacêutico e “médico prático”. É descrita a trajetória abolicionista de Sérgio Cardozo desde o período acadêmico, com destaque para o resgate de um menino escravo que o Barão de Cotegipe, Ministro da Justiça, levava à Corte. O acontecimento levou o aluno a abandonar o curso de medicina no 5° ano, dedicando-se ao jornalismo abolicionista e republicano, tendo se transferido para trabalhar como secretário de redação do jornal de José do Patrocínio no Rio de Janeiro, de quem foi amigo. Escreveu contos, novelas e romance, além de uma memória histórica de Santo Amaro-BA. Retornou a terra natal, Berimbau (Conceição do Jacuípe), nomeado como Juiz Federal. Exerceu no povoado a prática de medicina e farmácia, de modo gratuito. Algumas homenagens, como nome de fórum no município emancipado de Conceição de Jacuípe (posteriormente mudado para outro nome), de rua no bairro da Liberdade em Salvador e de Prêmio de um núcleo cultural, impedem o esquecimento deste baiano ilustre, exemplo de consciência crítica para os estudantes de medicina.

O Acadêmico de Medicina

Sérgio Cardozo, jovem.Fonte: Nicsa - Santo Amaro/BA.

Sérgio Cardozo Afonso de Carvalho nasceu em 7 de outubro de 1858 na Fazenda Salgado, em Berimbau (Conceição do Jacuípe), Bahia. Sua mãe se chamava Alexandrina Francisca de Moraes Cardozo e seu pai, um negociante de pedras preciosas das Lavras Diamantinas, José Joaquim Cardozo.
Ainda criança concluiu os estudos primários e veio para Salvador fazer humanidades, freqüentando os colégios S. João, Pedro II e São Francisco. Do adolescente com vocação para o curso médico, tem-se uma foto, na qual ficam evidentes os seus traços mestiços. Essa identidade étnica foi marcante em sua vida e possivelmente um elemento de identificação com seu companheiro de luta abolicionista, o também mestiço José do Patrocínio.
O jovem Sérgio Cardozo ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) em 1876.
No Arquivo Geral da FMB-UFBA, encontram-se alguns dos registros de suas matrículas no curso médico. Nos documentos de matrícula do 1° ano, em 7 de março de 1876, estão os certificados de aprovação nos exames preparatórios.
Com o conceito “Plenamente”, Sérgio Cardozo Affonso de Carvalho foi aprovado nos exames de Francês, realizado em 1872, de Latim, Inglês, Português e Geografia, em 1873, e de História em 1874.
Nos documentos referentes à 3ª série, em 1878, além do seu pedido de matrícula, no qual ele assinou ‘Sergio Cardozo’, tem um certificado dizendo que “o Sr. Sergio Cardoso fez exame do segundo curso medico theorico-pratico em 15 de novembro de 1877 e foi approvado Plenamente”. O curso na época era seriado (anual) e desde a reforma de 1832 tinha a duração de seis anos. Por alguma razão ele não cursou a 3ª série em 1878 e sim em 1879. Com certeza não foi reprovação, pois ele apresentou em 1879 a sua aprovação na 2ª série em novembro de 1877. O motivo poderia ser por doença ou, talvez, pela sua militância no movimento abolicionista. Não temos resposta a esta questão.
Na pasta referente às matrículas de 1880, há o requerimento de Sérgio Cardozo, datado de 8 de março de 1880, que consta já ter sido paga a matrícula e obtido a licença da Congregação para fazer o exame do seu terceiro ano, que ele já havia cursado em 1879. No livro de atas da Congregação do período de 1865-1882, há o registro do deferimento da Congregação, na sessão de 3 de março de 1881, ao requerimento de Sérgio Cardozo (aluno de 4° ano) para fazer os exames e cursar o 5° ano. Desse modo, este achado confirma que ele cursou o quarto ano em 1880. No entanto, foi infrutífero o esforço para obter os exames do 5° ano. Um dado curioso: em um manuscrito - agenda médica do laboratório clínico-farmacêutico de 1913 – do acervo da bisneta Elisa Cardozo Brandão (ECB), ele registra que, em 24 de outubro de 1883, ele obteve a transferência da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro para a da Bahia.

Esses registros reforçam o dado obtido nos inúmeros artigos de jornais, segundo os quais o aluno abandonou o curso de Medicina no quinto ano. Alguns desses artigos, sem citar fontes, vinculam esta interrupção da formação médica por Cardozo a um acontecimento relacionado com suas convicções abolicionistas, que será descrito mais adiante.

O abolicionismo esteve presente desde o início da história da FMB, através de vários professores e estudantes. Um dos primeiros professores, Antônio Ferreira França (1771-1848), Lente de Higiene desde 1815, como parlamentar, apresentou o primeiro projeto de lei para a extinção da escravidão, na Câmara de Deputados, em 16 de junho de 1831. O Prof. Jerônimo Sodré Pereira (1839-1909) tem seu compromisso abolicionista registrado em ata da Congregação da Faculdade, na sessão de 15 de março de 1865. Como deputado, desencadeou na Câmara, em 1879, o processo legislativo que resultou na Lei Áurea. Luís Álvares dos Santos (1829-1886), Lente de Matéria Médica e Terapêutica, e Luis Anselmo da Fonseca (1842-1929), Lente de Física e depois de Higiene, foram membros destacados de organização abolicionista, criada na década de 80, como será visto adiante. Merece destaque para os objetivos deste artigo a criação por estudantes de Medicina, em 1853, da Sociedade 2 de Julho. Essa entidade é considerada um dos embriões do movimento estudantil no Brasil e foi com ela que surgiu uma imprensa acadêmica. Uma das lideranças no processo de formação e lutas dessa “Sociedade abolicionista” foi o estudante do 2° ano, José Luís Almeida Couto (1833-1895). Formado, ele foi Lente de Clínica Médica, depois político, tendo sido presidente da Província de São Paulo e Bahia.

Além do trabalho de divulgação das idéias abolicionistas, os militantes dessa associação arrecadavam fundos para alforriar os escravos ou chegavam mesmo a auxiliar a fuga deles. Essa história de luta anterior, referida acima, foi fonte de inspiração para as ações de professores e alunos no período crucial da abolição da escravatura (1879-1888).

Desde cedo o acadêmico Sérgio Cardozo assumiu a sua identidade afrodescendente, herdada da avó paterna e nunca aceitou a injustiça e brutalidade da escravidão. Desse modo, ainda estudante, ele se engajou na luta abolicionista. Era uma pessoa destemida, pois, segundo Chiacchio, ele andava pelas senzalas do Recôncavo baiano a resgatar escravos ou interceptar o embarque deles. Chegou a inscrever como lema do seu jornal ‘O Mefisto’, lançado em 1883, uma frase subversiva do abolicionista baiano Luís Gama: ‘Todo escravo tem o direito de matar o seu senhor e aquele que não o faz é miserável’.
Uma neta de Raulino Cardozo, irmão de Sérgio, afirma num livro de memória familiar que seu bisavô José Joaquim desfez de seus bens pelos ideais abolicionistas, dando o apoio ao filho Sérgio. Diz também que o tio-avô levava escravos para a Fazenda Salgado de propriedade deles, onde D. Alexandrina, mãe de Sérgio, alfabetizava e depois liberava-os. Muitas vezes, o pai dele pagava as cartas de alforria. Não obtivemos provas diretas que comprovem estas informações de um relato familiar(26), em geral glorificador, mas não necessariamente inverídico, e da hemerografia, rica em pistas, mas sempre merecedora de cuidados num trabalho de investigação científica. Num manuscrito do acervo ECB (agenda médica), ele anotou: “Meu pai tinha 40 escravos até pouco tempo antes de morrer. Deixou ainda 36”.

Feito o perfil do jovem estudante, descreve-se a seguir o ato ousado que o levou a abandonar o curso médico em sua etapa final. A versão do acontecimento é a seguinte: João Maurício Wanderley (1815-1889) , o Barão de Cotegipe - naquele momento, Presidente do Senado, e, logo depois, chefe de Governo (1885-1888) e ministro da Justiça (1887-1888) de Pedro II - pretendia levar para a Corte um ‘moleque escravo’, chamado Lino Caboto. O acadêmico Sérgio Cardozo, com uma audácia pessoal, conseguiu arrebatar o menino. Cardozo contou com ajuda de amigos, entre os quais Panfilo de Santa Cruz, proprietário e companheiro de redação do jornal Gazeta da Tarde, homônimo do jornal de José do Patrocínio no Rio de Janeiro. Eles impediram os saveiristas de levar a bordo do paquete inglês ‘Trent’ o menino e outros escravos.

Este ato de coragem, ocorrido em meados de abril de 1883, tem um grande significado político e ético, pois desmascara um dos sinais da barbárie que era a escravidão, ao reduzir o ser humano a uma coisa, a uma mercadoria, e, no caso, ganha um sentido exponencial. O episódio envolveu uma criança, tratada como um souvenir ou um animal de estimação, que seria tirada dos cuidados dos pais e levada para um lugar distante deles. Lino Caboto é referido como uma criança, provavelmente com 12 anos ou um pouco mais, pois desde 28 de setembro de 1871 já tinha sido aprovada a Lei do Ventre Livre, e todos os registros consultados o referem como escravo. Criança escrava, infelizmente sim, mas, antes de tudo um ser humano que ia ser transformado pelo Barão, ministro da Justiça de nossa monarquia escravocrata, num presente para um casal de amigos. O Barão de Cotegipe é descrito como um ferrenho conservador, dotado de extraordinária habilidade e perspicácia políticas, que “negaceava e procrastinava sempre que d. Pedro [II] ou Isabel pretendiam fazer aprovar leis abolicionistas”.

Este acontecimento envolvendo um estudante de Medicina e uma importante autoridade do Império agitou a opinião pública. O jornal Gazeta da Tarde foi cercado pela Polícia e “o moleque reconduzido pelo próprio chefe [de Polícia] das mãos de Sergio Cardozo”. O episódio influiu de modo decisivo na vida do acadêmico, mas ainda carece de provas documentais a tese sustentada por muitos jornalistas, sem fonte, segundo a qual o Barão, para dificultar a vida acadêmica do estudante abolicionista, teria contado com o apoio de professores na Faculdade de Medicina da Bahia, em especial o influente Adriano Alves Lima Gordilho (1830-1892). Lente na cátedra de Partos, que hoje seria Obstetrícia, Adriano Gordilho formou-se em 1851 e recebeu o título de Barão de Itapoã em 1872.

A hemerografia, como já destacamos, é uma fonte rica, mas freqüentemente imprecisa, cheia de contradições e, às vezes, com informações fantasiosas. Há matérias jornalísticas que, em relação ao episódio acima descrito, afirma, sem citar fontes, que houve uma discussão acirrada entre Sérgio Cardozo e o diretor da Faculdade, sem nomeá-lo ou de “um grave desentendimento com um dos seus mestres”. Outros artigos relatam o episódio citado acima e referem que o Barão de Itapoã era o diretor da FMB (Faculdade de Medicina da Bahia).

Naquele momento, abril de 1883, o diretor era Francisco Rodrigues da Silvac , que, desde 16 de agosto de 1881, passou a presidir as sessões da Congregação, substituindo Antonio Januário de Faria, cujo mandato foi de 1874 a julho de 1881. O mandato de Rodrigues da Silva foi até 1886.
Não foi obtido nenhum testemunho que explicitasse, de modo circunstanciado, os fatos que resultaram no abandono do curso por parte do aluno. Se o afastamento do curso médico por Cardozo não foi em 1881 e sim, em 1883, após o episódio descrito acima, pode-se deduzir que o Barão de Itapoã usou seu prestígio dentro da Academia para dificultar a vida do acadêmico no curso médico. Uma outra fonte afirma que o episódio com o Barão de Cotegipe custou ao estudante um rumoroso processo, o que levou o pai dele, José Joaquim Cardozo, um negociante bem sucedido, a gastar grande parte da fortuna nesse embate jurídico.

Ao contrário de muitas versões jornalísticas, Sérgio Cardozo não foi formalmente expulso da Faculdade de Medicina da Bahia. Para a tese do abandono por perseguição “de alguns mestres”, e não de expulsão, tem-se inclusive o testemunho dado por Eliza Cardozo Brandão, que ouviu diretamente de sua mãe, Iara Cardozo, criada pelo avô desde a morte do pai, aos 2 anos de idade.
Outra constatação é que, ao deixar o curso médico, ele não viajou imediatamente para o Rio de Janeiro, em seu exílio voluntário. Há uma indicação que, em 1888, na aprovação da Lei Áurea, Sérgio Cardozo ainda estava na Bahia, pois Chiacchio refere que, no momento da vitória da causa libertadora, ele escreveu na Gazeta da Tarde, jornal abolicionista baiano, onde também militava o prof. Luis Anselmo da Fonseca, o seguinte texto: “Temos o justo orgulho de dizer a esta terra, do alto das ameias deste baluarte que não se rendeu na luta, estas palavras que ficarão aqui gravadas como por ‘um buril de fogo sobre uma lâmina de bronze: Lutamos e vencemos!” .

O Militante Abolicionista

Em 3 de maio de 1884, ele se tornou sócio efetivo da Sociedade Libertadora Baiana. O diploma está no acervo de Elisa Cardozo Brandão, nele constatamos que o presidente era seu colega da Gazeta da Tarde, Pamphilo da Santa Cruz.
Diploda da Sociedade LibertadoraA Sociedade Libertadora Baiana era uma organização da sociedade civil, fundada em 8 de março de 1883, que congregava os abolicionistas baianos. Chiacchio registra que Luiz Álvares dos Santos, Catedrático de Terapêutica da FMB, era filiado a essa Sociedade. É possível que outros professores e estudantes abolicionistas da Faculdade também fossem membros. Em novembro de 1882, José do Patrocínio em viagem ao Ceará, um grande reduto abolicionista do país, esteve em Salvador e fomentou a criação dessa associação libertária.
Patrocínio foi recebido como herói, sendo carregado do cais ao Hotel Bonneau, onde ficou hospedado. No Liceu de Artes e Ofício fez uma conferência que terminou com um apelo aos participantes para contribuírem pela libertação de uma escrava, cujo filho tinha sido beneficiado com a Lei do Ventre Livre, de 1871.

Logo depois de criada a Sociedade Libertadora Bahiana, foi fundada no Rio de Janeiro, a Confederação Abolicionista, em 10 de maio de 1883, que buscava reunir as associações abolicionistas de todo o país, tendo João Clapp como presidente. O baiano, radicado no Rio, André Rebouças e José do Patrocínio eram os responsáveis pela elaboração de seus manifestos, tendo como apoio a redação da Gazeta da Tarde.
O jovem abolicionista Sérgio Cardozo fez a oitava conferência abolicionista da Sociedade Libertadora Bahiana, que teve José do Patrocínio como o primeiro convidado dessa série de palestras da entidade, em geral pagas para ajudar na compra de cartas de alforria. Segundo a memória familiar, ele estava “com muito nervosismo por falar em público”. Em manuscrito o abolicionista registra ter feito a 8ª conferência da Libertadora em 8 de maio de 1883, um ano antes de sua filiação. É possível que ele tenha sido convidado pelo seu ato audacioso em abril do mesmo ano. Ou foi logo após sua filiação em 1884, e ele errou em suas memórias de 1913. O importante é que o documento confirma sua atuação como protagonista na luta dessa sociedade abolicionista.

Cardozo foi o companheiro inseparável de Patrocínio na Bahia, criando entre ambos um forte vínculo de amizade.
Essa amizade teve uma importância muito grande na vida de Sérgio Cardozo, pois, com o acontecimento já descrito, muitas portas se fecharam para ele na Bahia. Desse modo, ele encontrou no Rio de Janeiro, já então capital da República, um aliado de muito prestígio que lutaram juntos no abolicionismo e estavam juntos na defesa de uma república civil e democrática.
Esse vínculo de Cardozo com o “Marechal Negro” pode ser demonstrado ainda no período abolicionista, quando Patrocínio retornou de sua viagem à Europa, em 1884. Muitos escravistas ficaram irritados com a fama do líder abolicionista.
A Gazeta da Tarde carioca reproduziu uma reportagem da homônima baiana, cujo redator era Sérgio Cardozo, que denunciava um plano de fazendeiros do interior da Província.
Eles teriam assalariados dois homens para assassinar Patrocínio. O artigo baiano foi transcrito e, no estilo retórico e agitador, provavelmente escrito por Cardozo, dizia:
“Matem a José do Patrocínio, senhores fazendeiros. Conosco se levantarão os que ainda não falaram. Tomem sentido. Nós não queremos ser o morrão, preferimos ser a pólvora. Matem José do Patrocínio e verão”.

A Gazeta carioca agradeceu a denúncia do jornal baiano e afirmou que, ameaças reais ou fanfarronadas do ‘feudalismo nacional’, não intimidariam Patrocínio, pois ele não deixaria de pugnar pela causa ‘sagrada’ dos escravos.

O Jornalista Sérgio Cardozo na Capital da República

Numa folha avulsa manuscrita, presente no acervo de EBC, Cardozo destacava em sua atuação como jornalista, a luta abolicionista na Gazeta da Tarde da Bahia, ao lado de Panfilo, dono do jornal, e os Drs. Frederico Lisboa e Luiz Álvares dos Santos. Após 13 de maio, ele deixou o jornal, porque “por um sentimento de gratidão à princesa imperial, o seu proprietário deu-lhe um feição monarquista”. Ainda no mesmo manuscrito, registrou que passou a escrever no ‘Jornal do Comércio’ de Salvador, até que, em 1890, transferiu-se com sua esposa, Elisa , para o Rio de Janeiro, levando os dois filhos Elderico e Elizette, embora Pastora refira que o casal teve os dois filhos no Rio. Nos últimos anos da luta abolicionista e nos primeiros anos da República, Cardozo se dedicou às atividades de imprensa.

Ao chegar na capital federal, trabalhou em vários jornais, como Diário do Comércio, no qual foi secretário de redação, Jornal do Brasil, Diário de Notícias, A Democracia e, principalmente, o jornal abolicionista de Patrocínio, A Cidade do Rio. Nele também foi secretário de redação e tinha seu nome no cabeçalho do jornal, ao lado de Olavo Bilac. Há no NICSA (Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro), um exemplar do jornal que confirma esta informação.
Nessa função, ele recebia inúmeros bilhetes e cartas dos seus colegas de redação como Olavo Bilac, Coelho Neto, Paula Ney e, sobretudo, Patrocínio. Era pedido de publicação de matéria (“Sérgio – Peço-te que publiques o artigo. Sempre teu, Olavo Bilac”; “Amigo Sergio – Peço-te, com vivo empenho, que publiques esta carta de El Gordito na seção Tauramaquia. Interesso-me vivamente por isso. Será um grande feito ao seu amigo e colega, admirador, Olavo Bilac”), apresentando alguém de prestígio de interesse jornalístico (“Coelho Neto apresenta ao amigo e colega Sérgio Cardozo um industrial brasileiro. A ‘Água de Melissa’ por ele preparada, (...) pode concorrer com as melhores que nos chegam do estrangeiro. Pedindo a proteção justa para o trabalhador patrício, agradece penhorado. 22.1.98”), ou pessoal, como a extensa carta do poeta e jornalista Paula Ney. Há um bilhete importante e de um período mais precoce no Rio: “Ao Sergio Cardozo, Carlos Gomes visita e agradece vivamente e à ilustrada Redação do Diário do Comércio, 18/9/1891”. Estes bilhetes servem para mostrar o poder e prestígio que tinha um secretário de redação de jornal com leitores.
Dessa intensa correspondência, merecem destaques uma carta e três bilhetes: a carta é datada de 12 de abril de 1894, enviada pelo comandante da Brigada Policial da Capital Federal (que corresponderia mais ou menos à Polícia Federal), onde o chefe da Brigada, Sylvestre Rossi, denuncia que outro jornal, O Paiz, ‘forjou criminosamente’ uma ordem do dia atribuindo ao seu comando. Ele pedia que o jornal ‘Cidade do Rio’ divulgasse este ato calunioso. Era o início do governo de Prudente de Morais, primeiro presidente civil da recente república. Fica claro que o jornal de Patrocínio continuava contra o florianismo, movimento de base militar contrário ao poder civil.
Os três bilhetes selecionados são de Patrocínio. No primeiro, ele pede para o jornal noticiar que ele está doente e seu médico era o Dr. Campo da Paz. Ele solicita ao amigo que peça desculpas aos atores que encenaram a peça teatral de sua autoria, ‘Mota Coqueiro’, pela sua ausência por motivo de doença. No final, ele demonstra a sua amizade e confiança com o secretário de redação: “Aí vai a notícia do guarani. Corrige e aumenta. Tomei novo purgante. A febre passou. As dores continuam. Patrocínio”. O segundo destaque era um bilhete que estava escrito num retrato de Patrocínio, onde se lê: “ao meu querido Amigo, ao mais leal e ao mais dedicado dos meus irmãos em sacrifício na ‘Cidade do Rio’, ao Sérgio Cardozo, grande pelo coração e pelo talento – José do Patrocínio”.

O último escrito destacado, não menos importante pelo valor histórico, reflete o contexto político conturbado dos primeiros anos da República, no final do século XIX. Era uma correspondência, na qual Patrocínio registrava como ‘Reservada’ e dizia: “Manda tarjar toda a primeira página. Ficou em cima de minha mesa, em nota, as providências que o governo vem tomando. Se tu não puderes decifra-las, mandamos para que as organize. É preciso dar notícias dos discursos.
Falamos Nei [Paula Nei] e eu na ‘Cidade’. Guanabara [o jornalista Alcindo Guanabara], Belisário [o médico Belisário Pena] e Frederico Borges no ‘República’. (...) Dando notícias dos acontecimentos, limita a cousa à simples narração, nada de comentários. Se não houver grande movimentação nas ruas, manda-me dizer para que eu vá até lá para vermos o que há feito o que se deve aumentar ou cortar. Vai um artigo de Barros Barreto. Não o publiques. Rio, 7-3-1897. Patrocínio”.

Era o cenário da ‘Guerra de Canudos’. Mais precisamente, o exército sob o comando do coronel Antônio Moreira César foi derrotado pelos sertanejos de Antônio Conselheiro, tendo o coronel morrido no dia 3 de março de 1897. Ao chegar as primeiras notícias daquele desenlace em 7 de março, o dia exato do bilhete de Patrocínio, o florianismo explorou o episódio, divulgando que a república estava em perigo, tendo sido os monarquistas que armaram os sertanejos de Antônio Conselheiro. Jornais considerados simpatizantes da Monarquia foram atacados e depredados. Houve tumulto nas ruas, tendo aparecido os batalhões patrióticos, milícias fardadas que clamavam por uma solução imediata, isto é, armada. No dia seguinte, ao compreender o risco de perder do poder civil no Brasil, Prudente de Morais, que estava licenciado por motivos de saúde (convalescente de uma cirurgia que extraiu cálculos na bexiga), reassumiu a Presidência. Ele contrariava o desejo de seu vice, o baiano, Manoel Vitorino, que queria transformar a interinidade em permanência, com apoio dos jacobinos florianistas.

Nesse clima patriótico, Sérgio Cardozo não se omitiu. Escreveu ao governador Luís Viana, da Bahia, se oferecendo para lutar pela legalidade e pela república. Por intermédio de seu auxiliar, Arlindo Fragoso, que era amigo e primo de Cardozo, o governador agradeceu os serviços, mas recusou, salientando que ele prestaria melhores serviços à Bahia com sua atuação na imprensa do Rio.

No início do novo século, em 1902, o jornal foi definitivamente fechado, por falência. Patrocínio, num ostracismo político, contraiu uma enorme dívida e, de modo surpreendente, dedicou-se a um projeto delirante: construir um dirigível enorme, o “Santa Cruz”. Bem, essa nave jamais saiu do chão. Ele foi enterrado em 1905, desamparado e imerso em dívidas.
No momento em que Patrocínio se voltou quase exclusivamente ao dirigível, Sérgio Cardozo resolveu retornar à Bahia. Conforme manuscrito de sua vida jornalística, ele escreveu que chegou à Bahia em 15 de outubro de 1900 e logo, em 28 daquele mês, passou a trabalhar como chefe de redação de O Propulsor do município de Feira de Santana. Ele também retomou uma antiga paixão, a Medicina, como será visto mais adiante.
Encontra-se nas correspondências citadas e reproduzidas pelos jornais, uma resolução do Presidente Rodrigues Alves, datada de 22 de maio de 1905, que, através de seu ministro do Interior e Justiça, o baiano José Joaquim Seabra, nomeava Sérgio Cardozo terceiro suplente para Juiz federal do município de Santo Amaro, no distrito de Berimbau, o atual município de Conceição de Jacuípe.
Cruz Rios afirma que Cardozo foi Oficial do registro civil e escrivão de cartório, antes de ser nomeado juiz, sendo sua indicação feita por Ruy Barbosa. Embora não fosse formado em Direito, esse republicano assumiu suas funções, inclusive as novas de um Estado que, formalmente, se separou da Igreja. De sua inserção no mundo jurídico, comprovado tem-se a resolução assinada por J. J. Seabra o nomeando juiz em 1905.

O Escritor e Desenhista

Vale registrar também uma outra faceta que ele desenvolveu concomitante com o jornalismo. O ex-acadêmico de medicina Cardozo cultivou a escrita literária, produzindo vários textos em prosa. Os romances ‘A Escrava Branca’, em 1882, ‘O Pacto Infernal’, em 1883, e ‘Pacto de Sangue’, em folhetim na Gazeta da Tarde baiana; ‘Os deserdados sociais’, de 1896, e ‘Lélia’, de 1898, em folhetim no jornal Cidade do Rio. Os contos ‘Contos Indígenas’, de 1891, e ‘A Tapera Maldita’, escrita na Fazenda Salgado, em 1904 e publicada em 1908. Ele escreveu ainda uma novela, ‘As três noivas de Cordélia’, a obra ‘Os mistério da Bahia’ e um livro de memória histórica para sua terra natal: ‘Santo Amaro: Memória histórica e descritiva do Município’, publicação que se encontra no NICSA (Núcleo de Incentivo Cultura de Santo Amaro).
No prefácio de “Contos Indígenas”, de 1891, há um trecho no qual Cardozo manifestou sua insatisfação com o estrangeirismo, que, segundo ele, ameaçava as nossas manifestações culturais, sobretudo populares:

“Quando outro valor não tenha a presente obra,
servirá ao menos de protesto ao estrangeirismo
que nos invade avassalando tudo, matando os
nossos usos, atrofiando os nossos costumes,
fazendo esquecer as nossas tradições populares,
servirá de estímulo a outras inteligências mais
esclarecidas para continuar a obra de Alencar e
Gonçalves Dias” .

No acervo de ECB, constatamos que esta obra mereceu referências elogiosas em O Mequetrefe, O Combate, ambos do Rio, e do Jornal de Notícias de Salvador. No primeiro jornal citado, é destacado que o assunto em todos os contos era a vida sertaneja e Cardozo dizia a coisa como ela era, de modo direto e claro.
Entre os inúmeros talentos de Sérgio Cardozo constata-se também a sua habilidade para com o desenho em bico de pena. Quando esteve em Vitória do Espírito Santo, em dezembro de 1896, ele desenhou a vista parcial da cidade. Na hemerografia consultada, há reprodução de inúmeros desenhos. Nota-se uma predileção por desenhar igrejas: a igreja de Bom Jesus de Vila Rica, em junho de 1900; as ruínas da Igreja Matriz de Itapicuru, em julho de 1900; e a Capela das Pedras, em junho de 1901. Todas citadas ficavam no interior da Bahia.

O Retorno de Sérgio Cardozo a Santo Amaro e Berimbau

Ao se fixar em Berimbau, distrito de Santo Amaro, para exercer sua atividade como juiz federal, Sérgio Cardozo retomou duas vocações: a de profissional de saúde e a de jornalista. Abriu uma botica e exerceu a medicina prática, na época tolerada socialmente, sobretudo em áreas como aquela, pois os Conselhos de Medicina, Federal e Estaduais, só se formalizaram e baniram a prática sem diploma a partir de meados do século XX.
Sua sensibilidade para com os doentes pode ser melhor compreendida pela experiência que passou quando criança.
Uma infecção no olho, por uma troca de medicamento, resultou na extração de seu olho esquerdo, que foi substituído por uma prótese de vidro. Em sua farmácia, ele medicava os humildes, atendendo-os gratuitamente pela manhã, pois, pela tarde, ele passava no fórum, na sua função de juiz. Há um relato de sua dedicação no combate local a epidemia de cólera, que grassou no estado em 1912(28), no entanto, em sua Memória Histórica de Santo Amaro, Cardozo destacou a atuação de seu genro, Dr. Alípio Maia Gomes, marido de Elizete, no combate a essa epidemia, principalmente nos distritos de Bom Jardim, Lustosa e Oliveira dos Campinhos.

Como jornalista, além de colaborar em jornais de Salvador, como o Jornal de Notícia), editou a partir de 1904, em Santo Amaro, um jornal, O Prélio (que significa ‘luta, peleja, combate’), sendo, obviamente, seu redator-chefe. Colaborou também num jornal local que mexia com os figurões da época, A Sineta, que usava uma linguagem satírica.

Era um homem de fibra, querido por muitos, mas odiado por alguns. Há relato de um atentado que teria sofrido em 30 de dezembro de 1900. Quando sozinho fazia uma viagem, à noite, montado a cavalo, quando foi emboscado por dois homens. Mesmo ferido à bala, conseguiu chegar em casa.
Um testemunho o descreve já maduro, senhor de meia idade, vivendo no campo, com a lembrança dele quando andava montado num burro corpulento e fogoso, que realçava seu vulto estranho de cavaleiro errante, um dom Quixote no massapê: “Alto e magro, nariz aquilino, um lenço vermelho estrangulado por um grosso anel de ouro, de vidro o olho esquerdo” (Figura 8).
Nestor Oliveira, cujo pai era amigo de Cardozo, conta um episódio que demonstra o mesmo destemor que havia no abolicionista e republicano. Quando, ao receber a notícia de que um dos seus empregados de confiança fora indevidamente preso por uma autoridade de São Bento do Inhatá, hoje pertencente ao município de Amélia Rodrigues, montou em seu burro Furacão, e armado foi resgatá-lo como fazia nos tempos da escravidão. “Encontrou-o no caminho, contudo só arrefeceu a raiva depois de desafiar o subdelegado, tido à conta de truculento, à vista dos praças do destacamento, num movimentado dia de feira”.

Com 75 anos, Sérgio Cardozo faleceu em 4 de julho de 1933. Seus ossos foram colocados na capela que construiu em Berimbau, hoje, Igreja matriz de Conceição de Jacuípe. No ossuário contém a seguinte inscrição: “Lembremos tuas glórias e seguiremos tuas virtudes”.


Ossuário de Cardozo em um corredor a boreste da Igreja Matriz de Conceição do Jacuípe

O estudo acima permite concluir que o estudante de medicina, jornalista e juiz Sérgio Cardozo foi um dos mais destacados abolicionistas da Bahia, além de republicano autêntico cuja atuação ultrapassou as fronteiras do Estado da Bahia. Em seu livro “Baianos ilustres”, editado pela primeira vez em 1949, o jornalista Loureiro de Souza disse: “Hoje, esquecido e ignorado, vale ressaltar, agora o seu nome, como um dos mais ilustres da Bahia, senão do Brasil”.


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Filme Tieta do Agreste, rodado no Picado de Conceição do Jacuípe.

Tieta do agreste é um filme brasileiro dirigido por Cacá Diegues e lançado em 1996. Tem como base ano romance homônimo de Jorge Amado. A obra já tinha uma adaptação em telenovela pela Rede Globo em 1989.

Tieta retorna à sua terra natal, a pequena Santana do Agreste, após 25 anos de ausência. Sua volta causa certa apreensão na família, uma vez que Tieta saíra escorraçada pelo pai Zé Esteves, movido pelas intrigas de Perpétua, sua irmã mais velha.

A chegada de Tieta, rica e poderosa, põe fim aos boatos de que estaria morta e aguça a ambição não só de seus familiares - Perpétua, Zé Esteves, Elisa, Ramiro... -, mas de toda cidade.

Usando de sua influência, Tieta consegue trazer a luz elétrica à Santana do Agreste ao mesmo tempo em que se envolve num tórrido romance com seu sobrinho, o seminarista Ricardo.

A jovem Leonora, apresentada à família como enteada de Tieta, envolve-se com o secretário da prefeitura, Ascânio Trindade, num romance impossível que acabará resultando em uma nova e inesperada partida de Tieta.

Elenco

* Sônia Braga - Antonieta Esteves (Tieta)
* Marília Pêra - Perpétua
* Chico Anysio - Zé Esteves
* Cláudia Abreu - Leonora
* Leon Góes - Ascânio
* Heitor Martinez - Ricardo
* Patrícia França - Imaculada e Tieta jovem
* Zezé Motta - Carmosina
* Noélia Montanhas - Tonha
* Débora Adorno - Elisa
* Caco Monteiro - Ramiro
* André Valli - Barbosinha
* Jece Valadão - Comandante Dário
* João Phellipe - Peto
* Frank Menezes - Jairo
* Daniel Filho - Mirko Stefano

Curiosidades do filme:

* Sônia Braga teve a idéia de fazer Tieta logo após o término das filmagens de Luar Sobre Parador, em 1988. Entusiasmada, levou o projeto para seu então namorado, Robert Redford, fundador do Sundance Institute, que decidiu bancar a produção. O que Sônia não imaginava é que, na mesma época em que Jorge Amado cedera-lhe os direitos da obra para o cinema, Betty Faria os havia adquirido para a televisão. Com a estréia da novela, o projeto acabou arquivado.

* O filme é inevitavelmente comparado à telenovela, que foi protagonizada pelas atrizes Betty Faria e Joana Fomm e obteve grande sucesso. Na época em que ocorreram as filmagens, ao longo de dez semanas, a telenovela global havia sido reprisada recentemente no programa Vale a Pena Ver de Novo.

* As cenas da fictícia cidade de Santana do Agreste foram gravadas no povoado de Picado, no municipio de Conceição do Jacuípe, no interior da Bahia. A cena de sexo de Tieta jovem foi gravada no sítio de "Manezinho", conhecido morador do povoado.

* Ao contrário da novela, no filme Tieta não volta à cidade para se vingar.

* Mais fiel ao livro do que a novela foi, o filme de Diegues infelizmente não conquistou o público, em parte por não ver como Tieta e Perpétua as atrizes da televisão, e porque muita gente esperava ver mais uma versão da novela do que do livro para cinema.

* A trilha sonora do filme foi toda composta por Caetano Veloso, com destaque para "Luz de Tieta", gravado pelo próprio Caetano em dueto com Gal Costa.

* A consagrada diretora Lina Wertmüller foi quem primeiro adquiriu os direitos para o cinema de Tieta do Agreste, logo após a sua publicação na Itália, em 1982. Amiga íntima de Jorge Amado, Lina convidou Sophia Loren para estrelar o filme.[1] Tendo Claudia Ohana no papel da protagonista jovem, algumas cenas chegaram a ser gravadas na Bahia, mas o projeto terminou misteriosamente abandonado. Curiosamente, Claudia retomaria a personagem (Tieta jovem) alguns anos mais tarde, na telenovela global.

* Jorge Amado aparece em rápida participação na primeira cena do filme, lendo os primeiros parágrafos do livro.

* Antes de Tieta, Sônia Braga já havia encarnado outras duas personagens de Amado: Gabriela, em 1980 no cinema e, em 1975, na telenovela global, e Dona Flor (1976), até hoje a maior bilheteria do cinema nacional, com impressionantes 12 milhões de espectadores.

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Esporte em Berimbau

FLAMENGO DAS PINDOBAS

Flamengo das Pindobas em Berimbau

Foi no dia 11/09/11, que o Esporte Clube Flamengo das Pindobas completou mais um aniversário de fundação.

Nilton PimentelO Flamengo que foi fundado em 11 de setembro de 1974, que nas décadas de 80/90 levava a maior torcida para encher a pequena arquibancada existente da época. Uma diretoria capitaneada pelo esforçado Nilton Pimentel não media dificuldades para manter um plantel digno de disputar várias finais de campeonatos promovidos pela Liga Esportiva de Conceição do Jacuípe.

O último titulo conquistado pelo Flamengo foi em 1996, quando disputou com a equipe do 2º de outubro onde o resultado foi 1 a 0. gol do jogador Renê aos 46 do segundo tempo, lembra o apaixonado Nilton Pimentel.
O diretor de então Nilton Pimentel (foto com trofeu) que não tem um registro, mas se lembra que a base do time campeão foi compostas pelos atletas: Nilson, Vando (Muzenza), Vado, Val e Bitonha;
Geny, Coração, Eraldo (Marquinhos) Bimba, Vado e Renê. O técnico foi Tillemont. Segundo Pimentel ele que reeditar o mesmo Flamengo nos próximos campeonatos com uma nova direção tendo à frente, Ron, filho do saudoso Tadeu Cerqueira. Mas a torcida do mais querido tem a certeza de que os antigos dirigentes continuarão dando a sua colaboração e torcendo pelo sucesso
.


Esporte Clube Cruz de Malta

Foto tirada na frente da atual prefeitura, quando ela ainda nem tinha sido inaugurada, sendo esta a lista de seus jogadores:
Em pé da esquerda para a direita: de Zezito, Gié, Tonho Mufunga, Pacassú, Paraíba, Beto e Minininho.

Agachados: Bassú, Val Valadares, Mané de Maximo, Edmilson de Irineu, Xixixi e Tonho Mole.

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